sexta-feira, 12 de abril de 2013

Solidão nossa de cada noite


A camisa grande, a calcinha sorriso amarelo, as cortinas balançando, o puff beirando a porta que dá pra sacada, Boate azul de fundo ao longe, a brisa gelada de quem veio buscar os solitários e a completa escuridão tanto do quarto, quanto da alma. Cenário perfeito para quem curte um romance trágico. Tudo perfeitamente se encaixa em mim. Em mim. Parece estar encarnado. Espírito brincalhão, do mal, disposto a ver narizes vermelhos.  Diga-me Doutora, o que eu tenho? - Querida, você tem alma e seu estado é grave. Sinto-me chata de tal forma, que bater a cabeça na parede é quase uma solução. Me auto-constatar nessa condição lamentável, que bicho algum merece estar, é dilacerante, é boca seca, salgado. Paz, meu autocontrole berra e implora, escondido, talvez acorrentado dentro de alguma caixa de cigarros amassada por aí. Estou cansada dessa gente importuna. Pra me livrar desse povo, me abandonei, me larguei afogada na piscina de um copo de vodka. A carcaça está a Deus dará, ele escolhe o preço, ele manda pra esquina que quiser. E os olhos inchados, rebocados de preto amarronzado, vão ficando nas janelas acesas de dor, nas novelas assombradas pela perda da inspiração dos autores, nos olhos vazios que encontrar pela frente.

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