A camisa grande, a calcinha sorriso amarelo, as cortinas
balançando, o puff beirando a porta que dá pra sacada, Boate azul de fundo ao
longe, a brisa gelada de quem veio buscar os solitários e a completa escuridão tanto
do quarto, quanto da alma. Cenário perfeito para quem curte um romance trágico.
Tudo perfeitamente se encaixa em mim. Em mim. Parece estar encarnado. Espírito
brincalhão, do mal, disposto a ver narizes vermelhos. Diga-me Doutora, o que eu tenho? - Querida,
você tem alma e seu estado é grave. Sinto-me chata de tal forma, que bater a
cabeça na parede é quase uma solução. Me auto-constatar nessa condição
lamentável, que bicho algum merece estar, é dilacerante, é boca seca, salgado.
Paz, meu autocontrole berra e implora, escondido, talvez acorrentado dentro de
alguma caixa de cigarros amassada por aí. Estou cansada dessa gente importuna. Pra
me livrar desse povo, me abandonei, me larguei afogada na piscina de um copo de
vodka. A carcaça está a Deus dará, ele escolhe o preço, ele manda pra esquina
que quiser. E os olhos inchados, rebocados de preto amarronzado, vão ficando
nas janelas acesas de dor, nas novelas assombradas pela perda da inspiração dos
autores, nos olhos vazios que encontrar pela frente.