quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Dias marrons molhados



Foi em um dia desses nublado, escuro, enfumaçado, cinza, marrom molhado, que eu pude então analisar o efeito da carência e do desamor que a cidade grande faz em mim. Eu me sufoco em meio a esses milhares de prédios deslumbrantes e a poluição ilusionista, entre buzinas incessantes e derrapadas repentinas. Me perco ao centro da multidão, mergulhada nesse oceano de pessoas tão coladas e perfeitas feito moléculas de diamante, aparentemente fortes quanto o próprio, porém de perto não chegam à força do grafite, que apesar de ter os mesmos componentes do rei dos brilhantes, praticamente não há ligação entre uma camada e outra, evidenciando sua fragilidade já há muito gritante. Não sei se aguento essa loucura por mais tempo. Não sei se é solidão de mais pra pouca alma, ou se é pouco amor pra ser dividido entre tantos. Não consigo ter vontade alguma de participar desse sistema individualista. Não tolero essa falsidade impregnada nos sorrisos das propagandas de funerárias, apesar de achar que eles realmente ficam satisfeitos com seu lucro do tipo “Pague um caixão. Leve dois!” ou “Aproveite! Ao ir pra cova, leve um amigo”. Essa idiotice está em todos os cantos que seus olhos podem alcançar, nas pessoas, nos carros, nas pichações, nos outdoors, no céu, no vocabulário da massa e, até mesmo, naqueles cabelinhos fofoletes das crianças! E não venha me dizer que você nunca se influenciou por essa pseudo-felicidade imposta pela mídia, porque aposto que tem algo tão supérfluo dentro de sua casa, que ao pegar no objeto logo vem a pergunta “Pra que isso serve mesmo?”, ou porque com certeza já teve crises existenciais por não possuir uma autoestima indestrutível feito as das panicats. Eu sinto falta é do meu recanto, lá no interior dos interiores, tanto o físico quanto o espiritual, onde minha vida podia seguir o caminho que aparecesse sem se preocupar com o julgamento universal dos vazios de alma, se guiando apenas pelo vento fresco e a falta de medo do escuro. 

quarta-feira, 2 de maio de 2012

Amor, pra que?

Há muito parei com esses post's meio babacas sobre o amor e essas porcarias. Acreditava ou achava que acreditava, até segundos atrás, que esse tipo de coisa era se rebaixar demais, era acima de qualquer humilhação, uma infantilidade. Quando percebi o que estava fazendo, me odiei instantaneamente por estar reprimindo meus sentimentos.  Pra que isso tudo? Porque não isso tudo? Sinceramente, eu me pergunto o porque de não poder mandar uma mensagem pra quem a gente gosta. Só pra fazer parte de um joguinho que, provavelmente não vai ajudar em nada em um relacionamento. Deve ser. Pelo menos nos meus, isso não ajudou em nada. Quero é mostrar mesmo que eu gosto da pessoa. Não tenho medo. Nunca tive. Corro, busco, desejo, demonstro. Porque não poder postar esse maldito sentimentalismo, então? Talvez porque meus pais sejam casados há 25 anos eu tenha aprendido que uma relação morre e renasce várias vezes durante o tempo. Agora posso ser comparada a esses adolescentes emos, mas acho que quem me conhece, sabe muito bem que minha personalidade ta longe de ser uma possível vitima dos cabelos pretos e dos cultos depressivos. Tudo bem que quando eu sofro por alguém, pareço estar condicionada à auto-tortura. Não nego que prefiro sofrer a não sentir nada. Mas gostar de me martirizar, ah, me poupe. Vejo que as pessoas hoje encaram o amor como um contato no facebook ou no celular, um computador, um brinquedo: ele quebra e você descarta. Pessoas não são descartáveis porque pessoas não são coisas. “Amor, pra que?” é a pergunta do século. Amor hoje é considerado sorte, não esforço. O valor deste foi banalizado ao máximo, ao ponto de um “eu te amo” se tornar um "bom dia" e um telefonema pra pessoa que você gosta se tornar motivo de término de uma relação, porque afinal, você ta sufocando a pessoa. Pobres coitados, tão fracos de espírito, desaprenderam a amar, acham uma tarefa dificílima. Quero ver é se fazer admirável pra uma única pessoa durante anos. Ser admirável é tarefa para poucos. Que me desculpe quem não concorda e ou tem como religião a putaria, mas se resolver se envolver comigo, saiba desde já, que eu vou ser muito chata e não faço questão de mudar, porque amar não é se encaixar perfeitamente ao outro e muito menos fingir que não existem diferenças, mas saber apreciar as qualidades e amar os defeitos; é não conseguir viver sem a pessoa mesmo que ela seja uma idiota, é querer sentir o perfume natural dela e achar que é o cheiro mais gostoso do mundo, é querer estar ao lado dela sem motivo nenhum, além do amor que um tem pelo outro.

sábado, 10 de março de 2012

Janelas, sirenes e um amor

Hoje, acordei como de costume, lá pelas 12 horas da tarde, me sentindo um lixo com olheiras gigantes e uma ressaca moral linda e bem duradoura, por sinal. Você, como de costume, continua sua vida sem lembrar-se de mim, até porque você não tem motivos para isso. Porque alguém gostaria de mim e me desejaria por perto, não é mesmo? Magra demais, estranha demais, baixinha demais, grossa demais, feia demais, intensa demais. Já consigo rir disso ultimamente. É idiotice, eu sei, mas me faço sempre as mesmas perguntas para que, quem sabe, eu consiga ter um estalo repentino e, enfim, achar respostas que me façam feliz, mesmo que momentaneamente. A parte pior, é que eu sempre consigo. Vou criando diálogos infindáveis na minha cabeça, crio situações, cenas de amor, de terror, de tristeza e medo. Sinto o sabor e o calor tão à flor da pele, que pelos próprios, se tornam críveis de fato. Andei pensando em te expor tudo o que penso e sinto. É covardia minha não falar, mas realmente nunca tive o dom de fazer discursos sentimentalistas, até consigo escrever, mas falar é meu calcanhar de Aquiles. Ando baranga demais também. Mais um atributo pra enfeitar minha prateleira de defeitos. Andei procurando um lugar que me desse paz física e mental, porque a minha grande companheira Cama e meu querido amante Travesseiro, perderam suas funcionalidades principais, que eram me fazer descansar, e viraram meus agentes conservadores da memória que, é só um detalhe, mas deveria ser e estar reprimida. Admito. Você é minha pior lembrança preferida. Procurei quietude e acabei achando uma janela nada tranquila. Buzinas, derrapadas, prédios, fumaça, cinzas, sirenes, pega ladrões, gente demais e pessoas de menos, solidão. Meu ponto de fraqueza fica evidenciado nela. Estranho, mas é lá que quando quero me afastar do mundo, quando quero pensar sobre minha vida ou quando quero lembrar que existem sentimentos bons dentro de mim, que eu encontro sossego pra escutar meus próprios pensamentos e, claro, ajeitar todo o nosso relacionamento imaginário. Eu só queria olhar em seus olhos e, sem mais mentiras e desesperos, encontrar esse maldito acalento sereno e ardente, que todo o mundo sabe que nenhuma janela vai me dar. Só você.